Essa pose de menina-meiga-santinha é só disfarce.
No fundo eu escondo o veneno alecrim-doce de uma mulher.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Quarta de Cinzas



Cinza e seu significado para nossa vida


Com a Quarta-feira de Cinzas abrimos a nossa caminhada quaresmal. E para iniciar esta caminhada nós recebemoscinzas, colocando-as na nossa cabeça (testa).  O significado simbólico da cinza está ligado com suasemelhança com o  e com o fato de que ela é o resíduofrio e ao mesmo tempo purificado da queima após a extinção do fogoPor issoem muitas culturas ela é símbolo da morte, da transitoriedade, do arrependimentoe da penitênciamas também da purificação e daressurreição. Para expressar luto, os gregos, os egípcios, os judeus, os árabes e as tribos primitivas espalhavam cinzas sobre a cabeça ou assentavam-se ou rolavam-se sobre as cinzas (alguns textos bíblicos para entender oque foi dito: Gn 18,27;Jó 2,8;13,12;Is 44,20;61,3;Jr 6,26;Ez 27,30;Lm 3,16;2Sm 13,19;Jn 3,6;Mt 11,21). O homem expressa com isso (cf. Gn 18,27) a consciência da relativa nulidade da criatura diante do Criador

Ao recebermos as cinzas ouvimos uma das fórmulas usadas: “Tu és , e em  te hás de tornar” (Gn 3,19). Acinza recorda ao homem o reconhecimento de sua origem. A cinza é leve e por issoela é a imagem das coisas frágeis e efêmeras. Tudo é caduco. E toda avaidadetodo o brilho falso e esta vida mortalum dia conhecerão um fim. Recebemos as cinzas para nos relembrar de que somos ; é uma lembrança de que somos , de que não temos morada certa neste mundo, de que a morte é a única realidade inevitável no futuro de nossa existência. Na verdadenão é a morte que é absurda e sim a vida sem a morteMuitos se esquecem da morte e por isso, acabam vivendo absurdamente e acabam vivendo somente em função do prazerComo foi dito uma vezquem vive em função do prazernão tem prazer de viver. O prazer deve ser resultado de um viver bem. E para nós cristãos viver bem significa viver de acordo com os valores cristãos. A cinza é uma lembrança incômoda para quem acredita que o presente histórico é absolutoMas esta lembrança, na verdadenos ajuda a vivermos bem, a colocarmos as coisas no seu devidolugar para ganhar seu justo valor e sua justa perspectiva.

Com as cinzas recebidas o homem experimenta o próprio nadaPara expressá-lo, cobre-se de cinzaQuando o homem experimenta o seu nadanão há lugar nele paraarrogância. Ao contrárioele volta a ser humilde: humus, criatura dependente de DeusQuando vivemos a humildade que é a nossa própria existência opoder e a glória mundanos não vão nos atingirMas quando o homem deixar de reconhecer sua condição de criatura, querendo igualar-se a Deus,  ele se tornará um  morto e por isso, terá que voltar à terra de que foratirado, “porque és em  te hás de tornar” (Gn 3,19).

somente quando o homem reconhece que é que faz parte da terra, e que tudo o mais provém de Deus, brotará novamente a vida desse . E certamente as cinzas usadas na Quarta-feira de Cinzas provém das palmas do Domingo de Ramos do ano anteriorpalmas triunfais do Cristo vitorioso sobre o pecado e a morte.Cristo, morrendo, deu nova vida à terraconquanto ohomem se reconheça como terra. A quem assimconfessa o próprio nada faz-se ouvir a promessa de Jesus Cristo que vem triunfar do pecado e da morteconsolar os aflitos e dar-lhes, em lugar de cinzasum diadema, uma coroa de um rei.

Ao receber as cinzas, o cristão testemunha o absoluto de Deus em sua vida. E como conseqüência da profissão sobre o absoluto de Deus, o cristão relativiza todas as coisasIsto quer dizer que as coisas somente têm seu valor em relação ao seu CriadorSob o sinal das cinzas, ocristão reafirma hoje a sua liberdade de filho de Deus e ao mesmo tempo reafirma sua condição como  ou criatura e que  pode sobreviver como tal por causa da misericórdia de Deus. E Deus não tem como não ajudá-lo, pois o ser humano foi feito de acordo com a própria imagem de Deus (cf. Gn 1,26). Devemos lerportanto, astrês práticas de piedade apresentadas através do evangelho deste dia que abre nossa caminhada quaresmal.

A leitura do Evangelho quer responder a seguinte pergunta: “Como agradar a Deus?”. A prática da esmola, da oração e do jejum tem finalidade de sintonizar-noscom a vontade do Pai, de forma a preparar-nos da melhormaneira possívelpara a celebração da Páscoa.

Jesus enuncia o princípio geral sobre a prática dessa piedade. Estas obras de piedade não se devem praticarpara ganhar prestígio diante dos homens e com isso,adquirir posição de poder ou privilégio. Os que fazemassim privam-se da comunicação divina, cessa a relaçãode filho-Pai com DeusSegundo Jesus, ninguém merece agraça de Deus se ele finge executar ação que nãocorresponde à atitude interior que ele chama de hipocrisia.
 esmola (vv.1-4)

linguagem utilizada por Mt nesta passagem e nas outras duas seguintes revela uma forte polêmica entre cristãos e judeus. Os hipócritas são os fariseus do tempodo evangelista que praticavam e queriam impor aos outros um cumprimento externo da Lei de Moisés. Segundo Jesus aos quer querem entrar no Reino dos céus devem cumprir a vontade do Pai sem ostentação.

expressão utilizada por Mt para descrever esta atitudecomportamento(praticar a justiçasomente aparece neste evangelho sete vezesCinco delas se encontramem Mt 5-7) e tem uma grande importância para ateologia de Mt. Mas não se trata da justiça como a entendemos. Quando se fala da justiça nos círculos judaicos trata-se do conjunto de atos que fazem o homem merecedor da salvação. Entre os fariseus do tempo de Jesus estes atos de piedade eram fundamentalmente três: a esmola, a oração e o jejum.Mas para muitos estas práticas se tornavam uma questãopuramente externa e um motivo de orgulhoaté o ponto de que alguns faziam exibição pública de sua religiosidade(justiça).

Os profetas do AT falam freqüentemente do dever da compaixão para com o pobremas eles acentuam muito mais a justiça do que a caridade. O mendigo ou o pobre é acusação de um sistema injusto que gera pobres e miseráveisdependentes da “bondade” alheia.  Mendigo é o fruto de uma sociedade que não quer partilhar seus bens para os outros(Mas de outra ladocerto mendigo é aquele que quer uma vida fácilpois pela experiência,muitos não querem trabalharapesar de alguém oferecer-lhe trabalhoMas eles são apenas um grupo pequeno).

esmola deve ser expressão da misericórdia que existe no coração de quem se faz solidário com a carência alheia. A solidariedade acontece quando o homem tem compaixãoquando sente na própria pele o sofrimento alheio. O que sobra para nóspor pouco que seja, sempre faz falta para os outros que não tem nadaMas sempre ficamos incomodados, pois sabemos que isso nuncaresolverá completamente o problema do mendigo ou dopobreMas a esmola é um sinalum lembrete de quedevemos lutar por um sistema econômico que realmentefaça uma partilha justa dos bens. Reflitamos as palavrasde São Basílio(+ 379): “Ao faminto pertence o pão que guardas. Ao homem nu, o manto que guardasaté nos teus cofres. Ao que anda descalço, o calçado que apodrece em tua casa. Ao miserável, o dinheiro que guardas escondido. É assim que vives oprimindo tanta gente que poderias ajudar”. E Santo Agostinho acrescenta: “Senhor te fez servo bommas tu criaste em teu coração um mau senhor. Ficas alegres por causa da riqueza do cofre não te lamentas pela pobreza de teu coração? Há acréscimo em tua arcamas observa bem o que diminui em teu coração”.

próprio Jesus menciona a esmola para censurar a ostentação(cf. Mt 6,22ss). Isso devemos começar dentrode nossa famíliaEnquanto isso não acontece, ficamos incomodados.

Ao dar a esmola Jesus pede  a separação da pessoaquem a dá do seu gesto“...a tua mão esquerda ignore aquilo que faz a direita...E o teu Pai...dar-te-á a recompensa”(vv.3-4). O resultado do bem fica escondido ao homem que recusa de ser o juiz de seus atos.  O únicocapaz de apreciar é um Deus invisível  que habita nosegredo e não presta conta a ninguémUm dito populardiz: “Se você fizer um benefícionunca se lembre dele; sereceber umnunca se esqueça dele”. A vida vivida apenaspara satisfazer a própria pessoa nunca satisfaz ninguém.Não há melhor exercício para fortalecer o coração do queestender o braço para baixo e erguer pessoas. A bondade é o único investimento que nunca falha.

 oração (vv5-6)

instrução sobre a oração (vv.5-15) é a mais extensadas três práticas de piedade judaica e está situada nocentro literário do Sermão da Montanha. Esta instruçãoestá composta por uma introdução sobre a forma de orar(vv.5-8), o Pai-Nosso (vv.9-13) e uma conclusão que falado perdão(vv.14-15).

Através deste texto Mt quer fazer uma catequese sobre aoração cristã, semelhante a de Lc (Lc 11,1-11), mas cadaum dos dois evangelistas se dirige a um grupo distinto. Lc escreve para uma comunidade que necessita aprender aorar. Mt, ao contrário, escreve para uma comunidade que sabe orarmas necessita aprender a fazer a oração deoutra maneira (“Quando orardes, não sejais como oshipócritas...” v.5.7). Lc tem diante de si uma comunidadede origem pagã que não tem hábito de orar(será queviraremos pagãos se pararmos de orar?). Mt, aocontrário, está diante de uma comunidade onde há bastantes judeus que haviam aprendido a orar três vezespor dia desde sua infância.

Mt enfrenta um problema em relação à prática de oração. A oração como as demais práticas religiosas os fariseusconvertem em um motivo de ostentação e em umaprática pura externa. A oração não é mais um momentode falar com Deusmas serve de instrumento paraalcançar honra e prestígio diante dos homens.

Mt convida os cristãos a recuperar o sentido religioso daoração, purificando-a daquilo que há desviado a oraçãode seu fimPara Mt a oração do cristão deve estabelecerum relacionamento íntimo com o Pai“...entra no teuquartofecha a porta, e reza ao teu Pai” (v.6a), numclima de abandono e confiança em Deus: “Pai de vocês conhece as necessidades que vocês têm”(v.8). Oscristãos devem orar como Jesus orava. E o estilo destaoração é condensado na oração do Pai-Nosso (vv.9-13).

Uma das principais raízes da vida cristã que nos ajuda a sugar a energia inesgotável do amor divino é a prática daoraçãoNossa oração deve ser discretavivida na intimidade de nosso coraçãorepleta de silêncio capaz deperceber as insinuações do Espírito SantoMas  se cresce na vida de oração, reservando a ela, diariamente, o mesmo tempopelo menosque reservamos às refeições que nutrem o nosso corpo.

jejum

Sobre o jejum Mt utiliza o mesmo esquema literário que há utilizado  nas duas instruções anteriores (quando...nãofaçam como os hipócritas: v.2.5.16). Como  foi refletido no domingo anterior, o jejum era uma prática estendida entre os grupos religiosos ao redor de Jesus (Mt 9,14). Os fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18,12).

Mt relata que Jesus praticou o jejum para preparar-seantes de exercer sua missão (Mt 4,12). E a comunidadede Mt praticava o jejum (Mt 9,15), mas Mt quer dar um sentido novo a esta prática, evitando toda a ostentação exterior.   
     
Com o jejum evitamos que os bens deste mundo não nos escravizem. Faz uso deles para o bem próprio e do próximo, e neles degusta o Bem maior que é DeusJejuarentão, significa abster-se de alimentotomar uma atitude de respeito e de liberdade diante das coisasfazerespaço para os outros e para Deusconfiar na providênciade Deusconstituir um ato de conversão a Deus atravésdas coisas. Neste tempo quaresmal devemos aprender amorrer com Cristo para renascer com eleCom a ajuda desua graça, devemos combater tudo aquilo que, na nossavida, impede o nascimento do homem novo anunciadopelo Evangelho: nossas tendências burguesas, nossospequenos apegos, o comodismo ou o medo que nosimpedem uma atuação mais eficaznosso farisaísmo em querer fazer aquilo que nos dá vantagem ou prestígio,nosso vício/nossa dependência da TV ou do mundo virtualcomo a internet etc.

Muita gente acha que a quaresma é apenas um tempoem que não se come carne às sextas-feiras. No Brasil agrande maioria não come carne em dia nenhum não porcausa de dieta ou por questão de saúdemas porque não tem condição para ter carnePor issoaqueles que não passam necessidade, devem mesmo por uma questão desolidariedade aos necessitados, privam-se de carne ou de outras coisas.

jejum que agrada a Deus, diz o profeta Isaías (Is 58,1-14) é quebrar as cadeias injustas, libertar os oprimidos,realizar a justiça.

quaresma, neste sentido, é o tempo em quereassumimos a nossa vida cristã com um engajamentoefetivo de transformação do mundo em vista do Reino deDeus.

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